Poética

Escreve, não como se tivesse que ser, não tem, nem como se fosse essencial, porque não é, mas escreve por gosto, inocentemente, como por brincadeira. Dá-lhe o espaço e o tempo para que se torne séria. E lê, isso sim, de forma criminosa. Persegue, agride, assalta e possui - nisso sê violento. Levanta esse gosto bem alto, acende-te silenciosamente, não por alguma coisa ou alguém, mas só por isto, estas palavras estremecendo sobre o peso umas das outras, entornando-se para lá dos contornos desta solidão. Continua.
Como uma sombra que projectaste e que ganhou vontade, a criatura ir-se-á recortando contra a luz e movendo-se entre o tempo perdido, num grito sem voz, repetindo-se para a eternidade como uma espécie que se equilibrou entre a loucura e a beleza.


Revista Criatura nº 4, direcção de Ana Maria Antunes, David Teles Pereira e Diogo Vaz Pinto, organização pelo Núcleo Autónomo Calíope da Faculdade de Direito de Lisboa, Abril de 2009.

Texto transcrito da p. 5, sem indicação relativa à autoria

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