Testamento para outra vida

Só cá quero voltar como raposa loura saltando no restolho, furtiva. Quero caçar gafanhotos e parir sozinha na toca funda de terra, arrancando a pelagem do ventre para aquecer a ninhada, e ao desmamá-la, adeus, expulsá-la. Quero caçar pardais e comê-los sem piedade, fazendo da vida e da morte uma coisa una. Quero saciar a fome, o meu espanto animal de noite e luz e carne e adormecer sem planos, sem gente, para acordar com a primeira luz que anuncia o dia.

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