Conhecimento

Sei distinguir os passos da Micas dos da Morena, quando as ouço a caminho da sala. Mas é fácil: a Micas coxeia.

Consigo saber, de manhã, a qual delas pertence a respiração que escuto aos pés da cama e a que me chega do tapete do lado direito. Esta é mais difícil.

Distingo sem dificuldade qual delas está a beber água. A Micas bebe compassadamente, como se tocasse um instrumento musical; a Morena, sofregamente.

Identifico os seus cheiros, como elas identificam o meu.

Quando eram pequenas, e dormiam ambas comigo, e me lambiam a cara ao acordar, conhecia a roçadela das suas línguas na minha pele, ainda a dormir, enquanto rosnava, deixa a dona dormir, seguido do nome da respetiva.

Quando esticava a mão de noite e sentia uma pelagem, sabia a qual pertencia, mas esta também é fácil.

Sei o que a Micas me pede, quando emite barulhos. Quando tem sede, fome, dores ou precisa de ajuda para se levantar. A Morena vem lamber-me as pernas, esfregar-se nelas, dar saltinhos, olhar-me muito fixamente. E também interpreto.

Às vezes penso que há pais e filhos, maridos e mulheres que não se conhecem tão bem.

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