Druída

Embora tenha passado muitos anos a negar a influência que os meus pais tiveram na minha infância, percebo, hoje, que não vale a pena resistir: eu também sou aquilo. Não tolero facas cruzadas porque dão azar, nem tesouras abertas, nem certas espécies de plantas que a minha mãe acredita intoxicarem o ambiente. Guardo sempre garrafões de água e mantimentos para uma situação imprevisível. Aprendi a distinguir as ervas que servem para fazer infusão, sei onde posso encontrá-las, e aceitei essa sabedoria que a minha mãe herdou da sua, que por sua vez tinha vindo de há mil anos. Há em mim uma parte de druída, de terra estrumada. Esse é o meu lado preferido, porque não pensa, não julga, não tem medo. É o que tenho de melhor.

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