Os professores de Português não gostam de mim - parte 1

I Festival Literário da Madeira - dia 1 - ida às escolas

Fui falar sobre livros e leitura à Escola Secundária de Jaime Moniz, no Funchal, para um auditório de alunos do 10º ano.

Enquanto falo, observo a minha audiência, e as reações dividem-se. Os alunos sorriem-me, de vez em quando riem-se, e é para isso que ali estou; mas a maioria dos professores, sobretudo os de Português, gostaria de me sentir mais institucional.´

Seria minha obrigação explicar às crianças por que motivo devem tornar-se sábios e sensatos leitores, seguidores do Plano Nacional de Leitura. Deveria clarificar as vantagens culturais da grande literatura e excluir a de cordel, ou seja, Camilo Castelo Branco. Deveria ser capaz de meter na cabeça das crianças que a crítica ao clero feita no Sermão da Sexagésima é o mais interessante dos assuntos. E eu olho para eles e só consigo pensar que um dia fui aluna e tive de aturar pastelões que não lembram a Cristo.

Aos professores falta-lhes terem esquecido que um dia foram alunos. Os de Português, regra geral, não gostam muito de mim. Lamento muito, mas quando entro numa sala de aulas não concebo a ideia de ali permanecer 90 minutos sem me divertir. Preparo as aulas para mim, para que eu goste delas, para que me divirta. O interesse dos alunos há-de vir por arrasto.

Tenho também esta mania de que os alunos do ensino secundário, no que respeita ao Português, e à excepção do programa do 10ºano , de partes do do 11º, nomeadamente Cesário Verde, bem como o discurso argumentativo - e, enfim, no 12º, tirando Pessoa e o Memorial do Convento, apanham uma xaropada literária que não desejo a ninguém com a sua idade.


Por tudo isto, quando vou às escolas, não esperem de mim que convença os alunos a lerem com prazer o programa oficial. Se tivesse que cumprir essa função, recusá-la-ia.

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