Os professores de Português não gostam de mim - parte 2

1º Festival Literário da Madeira - dia 1 - ida às escolas


Mas, afinal, que palavras são essas que pronuncio e tanto dececionam os professores?!

Volto aos alunos que não gostam de ler, alguns deles filhos de professores de Português que lhes chagam a cabeça todos os dias – contraproducente! A mim nunca me mandaram ler. Pelo contrário, o que a minha mãe sempre me disse foi, Isabela Maria larga a porcaria dos livros e vai-me limpar o pó à sala e lavar a casa de banho, se faz favor! Não pode haver maior motivação! Os Planos Nacionais de Leitura deveriam ter estado sempre nas mãos da minha mãe. Aquilo era só estratégia.

Acredito que a pressão livresca exercida sobre os jovens que não gostam de ler é totalmente inútil. Tornar a leitura uma obrigação é o caminho todo andado para que sintam uma violenta alergia ao papel.

Portanto, o que lhes digo é que os compreendo; que sei que as primeiras páginas causam resistência, que muitas vezes as histórias são uma seca para a sua idade ou demasiado infantis ou que contêm palavras que não compreendem ou que os livros são enormes e sem ilustrações. E a leitura, como um desporto, um jogo que se aprende, exige no início algum esforço e disciplina. Não é um prazer imediato. Vai-se fazendo, descobrindo esse prazer, que a certa altura se torna viciante.

Os grandes leitores, toda a gente têm a memória curta. Já não se lembram como começaram.


Tento, por outro lado, explicar-lhes que não gostar de ler não faz deles umas aberrações. Não são piores do que os outros e não têm que se sentir mal por isso, embora admita que os livros constituem uma fonte de aprendizagem complementar à da família, à da escola e à da vida, nem sempre se confundindo com elas. Há coisas que só compreendemos lendo, que só podem ser-nos transmitidas por essa via. Segredos só nossos, cujo entendimento buscamos. Segredos que eram só nossos, julgávamos inicialmente, mas que de repente percebemos que também pertencem a outros. Os livros são uma forma de conhecer o mundo. Mas ninguém deve ler por obrigação. Ler por frete deveria ser um pecado capital.

Sugiro aos alunos que escolham ler o que lhes apetece: livros divertidos ou sobre vampiros que são giros, biografias sobre o José Mourinho ou os Tokio Hotel, histórias curtas, BD, livros só ilustrados, poesia, jornais e revistas… Leiam o que quiserem, e não se sintam pressionados com o que os adultos consideram a grande literatura.

Eu também me fartei de ler porcaria quando tinha a sua idade e fez-me maravilhas. Que saudades das fotonovelas Corin Tellado! Aquilo, sim, era grande literatura!

E continuo a insistir nesta mensagem: o que me interessa é que cada um dos alunos que não gosta de ler seja um bom colega, se preocupe com a dignidade humana, animal e ambiental; que aprendam a ser homens e mulheres e a respeitar-se; que aprendam a viver, e, meu Deus, se é bem mais difícil que a Matemática!

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