História muito simples I

Quando vínhamos de carro de Alcácer, aos fins-de-semana, e a Morena era bebé, meio cega ainda, caía do assento de trás, indo parar ao saco da roupa suja ou ao das batatas ou ficava entalada entre duas peças de bagagem.
Eu parava o automóvel na berma da auto-estrada, salvava-a com jeito, beijava-lhe o focinho, as patinhas, o umbigo, tudo rosa, dizia-lhe meu bebé, e punha-a no meu colinho, onde faria o resto da viagem. A Morena sempre foi uma bebé frágil e tonta que me apeteceu comer de amor.
O carro de apoio da Brisa estacionava atrás de nós, enquanto duravam as operações de resgate, e eu ignorava-o, e continuava caminho, com a minha pequena felicidade sentada ao lado, ignorando ainda, duplamente, que aqueles seriam os únicos gestos maternais que me caberiam, e que a felicidade nunca deixou de andar sentada sempre à minha direita.

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