O anjo caído

Acalma-te!... Escuta, antes de dares livre curso ao teu ódio! Não terei já sofrido bastante para que tu procures ainda aumentar a minha infelicidade? A minha vida, a minha triste vida, é-me ainda querida e defendê-la-ei. Não esqueças que me fizeste mais forte do que tu. Mas não quero lutar contigo. Sou criação tua e serei doce e obediente para com o meu amo e senhor, se quiseres desempenhar o papel que a ti cabe. Oh! Frankenstein, se és justo para com os outros, não me esmagues a mim, credor da tua justiça, da tua clemência e do teu afecto. Eu deveria ser o teu Adão; mas afinal sou o anjo caído que baniste do paraíso. Por todo o lado vejo uma felicidade de que estou irremediavelmente excluído. Eu era benevolente e bom; o desgosto transformou-me num demónio. Faz-me feliz e tornar-me-ei virtuoso.

[...] Acredita-me, Frakenstein, eu era bom, a minha alma transbordava de amor e caridade; mas tu não vês que estou só, desesperadamente só? Tu, meu criador, detestas-me; que posso esperar dos teus semelhantes, que nada me devem? Eles repelem-me e odeiam-me. (...) Contudo, está nas tuas mãos fazer-me justiça. Deixa-te enternecer e não me desdenhes. Ouve a minha história; depois de a ouvires, abandona-me ou lastima-me, mas escuta-me.

Mary Shelley, Frankenstein

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