A Mamã vai votar à esquerda

Apesar do descrédito que me merece o negócio político, e tendo ponderado muito seriamente abster-me, pela primeira vez, desde que ganhei direitos de cidadania, decidi votar nas eleições do próximo domingo. Passo a explicar:

1. Não votarei à direita, porque os valores que defende já estão gastos desde a extinção do Tribunal do Santo Ofício.

2. Não votarei no PS, em tempos um partido progressista, que serviu como alternativa à esquerda não monolítica. O PS de hoje é uma organização muito diferente, um conluio de interesses e proteções.

O meu voto, será encarado, portanto, como não útil, uma vez que não contribuirei para a eleição de nenhuma das forças políticas de topo.

Mas o essencial da questão é exatamente esse: já fomos bastamente governados pelas forças políticas de topo, já sabemos o que delas sai, portanto não posso compreender a insistência autofágica em mais do mesmo.

Faz-nos falta uma experienciazinha diferente. Pode correr mal, como tudo, mas por enquanto não sabemos. Insistir em levar porrada todos os dias e gemer todos os dias e levar porrada todos os dias é que me parece pouco saudável.

Eu sei que somos portugueses, mas, caramba, não estamos mortos!

A Mamã esteve a explicar-me por A mais B, no passado fim-de-semana, por que temos de votar à esquerda, e eu sorri, porque me lembrei do Papá a chamar-me comunista - e a Mamã e o Papá sempre votaram nos mesmos partidos. Mas chegada a altura em que a Mamã me senta ao seu lado e me diz, Isabela, no próximo domingo vamos votar naquele partido de esquerda porque temos de ter alguém que nos ouça e nos defenda, algo quebrou. E essa quebra agradou-me.

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