A vida é lenta e morna

Fiz a massagem com o gel anticelulítico nas coxas, barriga e braços, enquanto aproveitava para ver em vídeo Lost in Translation, de Sofia Coppola. Não gostei de Lost in Translation quando o vi no cinema: desvalorizei a realizadora, bem como a principal atriz, jurei que jamais iria a Tóquio, cidade mais impessoal do mundo, e que não passava de um filme lento e morno, com uma historiazinha de atração quotidiana que agradaria à madre Lúcia dos Três Pastorinhos. Terei visto o fime em que ano? 2006? Se foi em 2006 talvez consiga contextualizar. O meu gosto é altamente influenciado pelos contextos de vida, que posso fazer?!
Hoje pareceu-me bem.
A Morena veio deitar-se no tapete da sala a pedir-me festas, com as quais a obsequiei, embora a tivesse avisado previamente de que as minhas mãos e pernas se escontravam barradas com odores insuportáveis para o seu faro canino. Suportou-os, pelo que a cocei e massajei, lhe dei beijos e lhe limpei os olhinhos com um paninho de flanela, enquanto ela respirava fundo. Pensei que devíamos todos ser Morenas que se aproximam de quem gostam e pedem, sem palavras, acaricia-me, dá-me atenção, faz-me festas. Trata de mim.
Os momentos felizes da vida são simples, ver um filme, acariciar o nosso cão e gozar a sua companhia, a sua confiança e entrega.
A história da minha vida, apercebi-me a certa altura, é assim lenta e morna e quotidiana como Lost in Translation.

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