Esplanada

A esplanada encontra-se vazia, batida por vento e sol.

A empregada loura recolhe as chávenas e pires das bicas, os pacotes de açúcar usados e intactos. Limpa as mesas com um trapo húmido, o vento varre-lhe os cabelos para a cara, e ela sacode-os, tentando enxergar. Tem as mãos ocupadas. Pergunta-me, quer mais alguma coisa? Abano a cabeça. Sorrio.

De dentro do café chegam ruídos da tv e vozes de clientes falando alto, contando a outros as suas vidas certas, alardeando sobre futebol, trabalho, vizinhos. "Eu sou um tipo normal, pá, tu não me vais dizer que eu não sou um tipo normal! Vaidoso?! O que é para ti vaidoso?"

O vento levanta-me as páginas do jornal. A Morena espera por mim à sombra, uns metros ao fundo; a Micas deitou-se numa réstia de sol aos meus pés, enquanto o caldo-verde arrefece.


Pouco depois chega um segundo cliente com dois cães minúsculos pela trela. Ladram muito à Micas, que não se mexe, porque os cães minúsculos ladram sempre muito, já sabemos.

Mas até chegar o dono dos cãezinhos, a esplanada esteve vazia ao vento e ao sol e eu estive nela como antes de chegar ao mundo. Os carros passavam dos dois lados da estrada e eu não os ouvia, porque me rodeava um silêncio sem peso, uma breve impressão intemporal. Era só a luz do meio-dia estendendo raios solitários pela esplanada,e não era mais nada.

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