O cérebro de alguns homens

Se Júlio Verne fosse vivo escrever-lhe-ia um email no qual lhe rogaria com fervor que me tranformasse numa personagem minúscula e me deixasse entrar no cérebro de alguns homens pelo bico da sua pena. Gostaria que me permitisse viajar ao centro do cérebro masculino para descobrir como é constituído, e em que compartimentos encerram o amor, o desejo, a vingança, o despeito e o desprezo, que tamanho tem cada um e como se interrelacionam. Uma zona que me interessaria particularmente seria a das capacidades verbais, que a ciência declara atrofiadas. Não acredito. A ciência falha muito. Se não se encontra atrofiada para escrever longos romances e poemas épicos, já para não falar em relatórios de dezenas de páginas no melhor português, por que o estaria para se exprimir vocalmente?

Seria uma viagem de grande interesse. Eu tiraria as necessárias fotografias, instalaria microchips mais pequenos do que eu, e recolheria amostras de material que traria para análise à superfície. Aproveitava e, a bem da saúde pública, desenterrava todas as bandeirinhas que por lá foram ficando espalhadas pela ação de diversos astronautas, como fazem sempre que aterram na Lua. Ninguém deve reclamar território na Lua nem no cérebro de um homem. No primeiro caso é uma questão de limpeza, no segundo, a anatomia não suporta o esforço, e a área reclamada sofre necrose dos tecidos, com as terríveis consequências que o problema acarreta.

Mensagens populares