Isto é um poema

Uma das patas da Micas inchou durante três dias. Isto foi a semana passada. Parecia a pata de um urso. Comprei-lhe o antibiótico que a doutora veterinária mandou e a pata rebentou em pus. Começou a sair por uma fenda, só um fiozinho, como se a pele não suportasse esticar mais um milímetro, e depois deu em borbotar como se fosse vinho a espichar de uma bexiga de porco.

O pus começa branco e acaba um sangue leitoso. Espremi-lhe a pata e saiu um copo daquilo. Os animais são muito animais.

Com os dias, a fenda alargou e transformou-se num buraco de dois centímetros.

Primeiro, aplicava-lhe no buraco uma mistura de Bacitracina com Halibut, feita na palma da minha mão, mas ela lambia as pomadas e vomitava. Agora, não a curo com nada, e ela lambe-se de hora a hora e não vomita.

A ferida deita um cheiro doce a carne crua, aberta, viva, e alcançam-se, à vista desarmada, umas minúcias que são tendões e ligamentos. Cheira a flor tropical mergulhada em saliva.

Se calhar as pessoas de estômago sensível não deveriam ler este texto, mas é melhor avisarem-me antes.

Mensagens populares