Usar tupperwares mata




Lembrei-me hoje deste caso enquanto arrumava a prateleira das caixas tupperware.

Há poucos anos trabalhei numa fábrica onde me davam pouco tempo para almoçar. Restava-me levar para o emprego uma caixa de plástico com alimentos já cozinhados, e pedir à funcionária do bar que mo aquecesse no microondas. A sua cara de enfado evidenciava que detestava fazê-lo, que não era a sua missão, mas, sem argumentos, lá me aquecia o almocinho enquanto eu esperava com cara de quem nada percebe, sempre sorrindo, como se quem está do outro lado fosse o cúmulo da simpatia. Era uma mulher jovem, franzina, nervosa, intervalando de meia em meia hora para fumar do lado de fora do portão. Tirar o avental e a touca, despir a bata e caminhar até ao exterior não só era uma trabalheira como não permitia ver rendimento nas tarefas do dia, mas ela ia e vinha do portão, pálida, tristonha, de cara fechada.

Um dia disse-me, de rompante, "não traga mais estas caixas". Olhei para ela, perplexa. Teria coragem de se negar a aquecer-me o almoço? Passaram-me mil pensamentos pela cabeça e nenhum deles estava certo. "Como?", respondi. Ela repetiu, "não traga caixas destas; só se for das apropriadas para microondas que se vendem no Continente; este plástico é cancerígeno, não presta; fica com a comida toda envenenada". E enquanto me transmitia a sua mensagem de saúde pública, que nunca cumpri, meteu o recipiente no microondas, pegou no isqueiro e no maço de tabaco e rematou, "olhe, vou lá fora fumar um cigarrinho; quando ouvir o aparelho apitar, pode entrar e tirar a comida, que deve estar quente."

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