Questões politicamente incorretas que me dou ao luxo de propor

Iniciei um processo de adoção em 2007. Em 2008, após visita domiciliária e entrevistas várias com a assistente social e a psicóloga da Segurança Social para apurar a minha idoneidade e capacidade para criar uma criança, fui aceite como candidata, estatuto que determinou a emissão de um certificado de adotante.

Contactei a Segurança Social no mesmo ano, para saber o estado da minha candidatura, que sempre me disseram ser de solução fácil, já que aceitava um filho de qualquer raça, sexo, com mais de 3 anos de idade e algumas doenças crónicas. Sempre parti do princípio que, caso tivesse um filho biológico, de igual forma não poderia escolher uma série de caraterísticas que são determinadas pelo destino - lamento que este vocábulo seja pouco caro à maioria dos leitores.

Em 2009 voltei a contactar a Segurança Social tentando saber o motivo da demora, num caso fácil como o meu. A assistente social afirmou que não havia crianças que cumprissem os meus requisitos. Perguntei quantas pessoas tinha à frente na lista de espera. Duas, fiquei a saber. Só duas, porque ninguém aceitava crianças negras e muito menos com mais de três anos de idade.

Deixei de telefonar e fiquei à espera. Entretanto, o meu projeto de vida sofreu alterações. Já não quero o queria há quase cinco anos. As prioridades mudaram. Vou fazer 49 anos, tenho o meu tempo ocupado em permanência: ter um filho, nesta altura, não seria uma boa ideia. Deveria ter vindo antes.

A semana passada recebi uma carta da Segurança Social na qual me pedem que manifeste por escrito, no prazo de dez dias, a intenção de adotar, caso contrário a minha candidatura será considerada inválida. E ao lê-la, acendeu-se na minha mente uma luz de certeza intuitiva relativamente ao que não passava de uma suspeita: embora a Lei não permita a discriminação de uma mulher solteira num processo de adoção, os motivos pelos quais nunca me foi apresentada qualquer criança (lembro que sempre me foi dito que o meu caso era fácil) terão estado relacionados com o facto de ser sozinha. O celibato põe-me à parte.

E ocorreu-me que ninguém se preocupa em comprovar a idoneidade parental das mães e pais que destroem crianças, por esse mundo fora. Qualquer psicopata nazi pode ter e educar filhos, desde que lhes transmita os genes. E a esses, cá por mim, era esterilizá-los nos centros de saúde, a bem ou a mal. "O senhor Adolfo e a dona Eva vão levar estes injetáveis gratuitos e cheios de vitaminazinhas para lhes darem saúde e energia". E poupava-se muito sofrimento ao mundo.

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