Uma gorda que sorria sempre

Enquanto arrumo armários, abro peças, observo-as, e mal acredito que era a minha roupa de há um ano atrás. O que uma pessoa veste para esconder a gordura!
Não suporto a maior parte das camisolas, mesmo que ainda se encontrem em condições, e possa vesti-las largas, para um efeito blasé. São de má memória. Não quero meter-me dentro desses panos, como se contivessem o efeito simbólico de me transportar muitos quilos atrás; recuso voltar ao espaço-tempo da clausura.
As cuecas grandes, os soutiens velhos. Roupa que comprei por ser a que me servia, não aquela de que gostava. Os pijamas nas gavetas, que abandono! Camisolas sem calças. Tudo desemparceirado, gasto. Dormia com estes trapos? Oh, que gorda tão triste, sorrindo ao longo da travessia!
Lixo! Repenso: esta roupa vestiu-me e não sou desapegada. Custa-me. Talvez possa reciclá-la, cortá-la às tiras para fazer tapetes; em quadrados grandes para panos de limpeza com diversos fins.
Entretanto, onde guardo as roupas antigas da gorda? Escondo-as atrás da porta da casa de banho pequena? Ganho uns dias e logo decidirei o que fazer aos trapos inúmeros, larguíssimos, coçados na anca e nas mamas.

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