Carne viva

Fotograma de La Piel que Habito, de Pedro Almodovar




O silêncio das manhãs de domingo é o mais completo. Não se escutam as crianças a gritar na escola. As mulheres e o homens pararam de circular, cruzando-se na azáfama das compras. Os automóveis circulam devarinho, e o ruído dos pneus sobre o alcatrão desvanece-se. Não ouço os autocarros descendo a avenida nem o metro de superfície. Parece que a humanidade desertou e estou só no mundo, finalmente, como fantasiei a vida inteira. Deixaram-me em paz com as minhas memórias e fantasmas, desistiram de me julgar, e posso finalmente ser apenas o que sou dentro da carne. Carne viva sem tribunal.

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