A moda da paneleiragem e da fufice se porem a procriar e adotar

Um amigo homossexual acabou de adotar um menino latino-americano, após um périplo de três ou quatro anos. É espanhol, recorreu a uma agência, pagou, frequentou cursos, provou a sua idoneidade moral e chegou agora a uma fase do processo em que lhe falta ir buscar a criança e educá-la.
Fico feliz por ele, embora, deva dizer, muitas pessoas informadas continuem a defender que um homossexual não deve adotar por motivos que se prendem com a felicidade da crianças. Alegam que são egoístas, não pensando no bem-estar dos meninos e menincas que geram ou adotam, e o argumento é sempre o mesmo: o bullying na escola. O que acontecerá quando os colegas souberem que têm dois pais ou duas mães? Respondo que, quando os colegas souberem, farão perguntas, e a seguir habituar-se-ão. Permanecem céticos perante o meu otimismo. Sou apenas realista. O fenómeno só será invulgar enquanto não houver um ou dois casos destes em cada turma. Depois, torna-se a ordem normal das coisas.
O desejo de ser mãe ou pai não é universal, mas quem o alimenta deve poder realizá-lo sem contemplações pelo género de quem ama. Em Portugal, fala-se agora da possibilidade de facilitar à mulheres solteiras o acesso à procriação medicamente assistida. Parece-me bem. Mas e os homens? Não têm o legítimo direito de almejar ser pais? Vozes do contra dizem-me que os homens são diferentes, que os pais não amam como as mães, que não se dedicam como estas. Que, enfim, até podem ser pedófilos. Podem, realmente. E as mulheres? E os progenitores casados que se aproveitam sexualmente dos filhos? Não seremos todos inocentes até sermos culpados?
A ideia que subjaz a esta impossibilidade de adoção pelos homossexuais é essencialmente a seguinte: tudo bem que fodam uns com os outros, ok, já nos habituámos, mas criar crianças é que não, porque ainda se corre o risco de saírem paneleiros ou fufas como os pais ou mães.
Uma aluna, discutindo estas ideias em aula, uma destas semanas, garantiu-me ter lido que uma filha criada só pela mãe tinha mais chances do que qualquer outra de se tornar lésbica. E o mesmo com rapazes criados só por mulheres, que ganhavam muita pluma. Lembrei-me logo do meu pai, putanheiro até à quinta casa.  Argumentar que as familias ditas normais tenham produzido todos os homossexuais que conheço é argumento que não colhe, não compreendo porquê.
Defendo que os homens e as mulheres têm direito à paternidade e/ou à maternidade, ponto final. Com quem dormem não me interessa, apenas o desejo honesto de procriar, de se continuar pelo sangue ou pelo afeto, realidade que compreendo, porque também alimentei esse sonho, e, sendo solteira, fiz o que podia,  muito para além do que as normas permitem, para o concretizar. 
Vedar a procriação ou a adoção aos homossexuais continua a ser uma forma de lhes dizer, "meus amigos, desculpem, juntem-se lá nos vossos barzinhos e interesses e fetiches, mas não sendo vocês normais não  vos confiamos a responsabilidade de criar filhos". Portanto, a ideia de uma cultura inclusiva para os homossexuais, em Portugal, é uma baita mentira.

Mensagens populares