O sublime

No fim-de-semana fui ver É na Terra, não na Lua, de Gonçalo Tocha. Na segunda parte do filme vemos um grupo de bird watchers procurando avistar aves na ilha, apesar do nevoeiro. As vozes em off dos narradores informam-nos que um desses birdies tinha ficado preso no Corvo, certa altura, devido ao temporal, pelo que decidiu subir a serra para apreciar as aves; nesse contexto avistou uma tão rara que se emocionou, sentiu mal e vomitou. Duas raparigas de vintes, trintas, atrás de mim, riram-se. A sua ignorância incomodou-me. Os humanos têm reduzida consciência do sublime. Talvez já tenham passado por ele, mas não perceberam. Uma t-shirt e um par de sapatos com sola compensada não são sublimes. O sublime é uma visão intrinsecamente pessoal, solitária e rara. Já me aconteceu duas ou três vezes, se tanto, sempre só, no contacto com a natureza, os animais, ou na experiência da arte nas suas diversas formas. O sublime é raro e não tem testemunhas.

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