Os escravos livres

Às 8 da manhã, o elevador anda para baixo e para cima com uma frequência que me agonia. Escuto os passos apressados das pessoas nos outros andares e o ruído do trânsito lá fora, acelerando. Levanto-me para iludir os barulhos do exterior, produzindo os meus. Sinto-me mal disposta, com o estômago às voltas, como quando aos sete anos me acordavam para ir para a escola, sabendo tão bem que se preparava mais um dia de pancadaria, de dor e resistência sem esperança. O meu estômago sempre me assinalou a angústia.
Começamos a ser escravos demasiado cedo, e, se não estivermos alerta, ou não pudermos libertar-nos - raramente estamos, podemos - somo-lo a vida inteira, tomando-o como a ordem natural da existência, aquilo que tem de ser feito porque outros fizeram antes de nós, porque é assim, é assim, pronto.
Não tomo o pequeno-almoço. Não consigo. Tenho o estômago às voltas. Bebo um chá para mitigar o vómito. Preparo rapidamente o meu fardo e sigo em direção ao campo de concentração onde trabalho para manter o direito a trabalhar.
 

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