Quero ter uma revelação

O novo edíficio que agora substitui o WTC, mais alto, é um brinquedo novo. De resto, não só não serve para nada, como se manda abaixo com igual facilidade.
O ataque às Torres Gémeas mostrou a América à própria América. Eram mais frágeis do que se pensavam. Aliás, nunca que lhes tinha ocorrido que estavam tão à mercê quanto eu. Afinal, a nação multipartida não era um cofre forte e os seus filhos não podiam dormir em segurança.
Lamento profundamente a dor dos que ali morreram, e também a perda que sofreram os que os amavam, mas o outro lado do mundo ganhou, usando o mais expressivo dos argumentos: a destruição do centro financeiro do mundo (World Trade Center). 
Dizem que a destruição do Centro Financeiro do Mundo (CFM) inaugurou uma nova era. Eu também. Aquilo que o CFM representava não me agradava. Os CFM que proliferam pelo resto do mundo continuam a repelir-me devido a duas ideias-chave contidas na expressão: centro e financeiro. 


 Foto: Steve McCurry



Não existe um centro do mundo porque todos os mundo são centros. Eu juro que não sei onde fica o Burkina-Faso, mas tenho a certeza que fica no centro do mundo, exatamente como Vila Nova da Barquinha. Por outro lado, o centro do mundo sou também eu a plantar couves de permacultura na varanda, o meu vizinho a levar o filho ao atletismo, a minha mãe a chagar-me o juízo porque toma o Laevolac e não caga, mas finanças é que, garanto, não. Ter misturado vida e finanças, pelo menos como o fez a cultura na qual nasci, foi um erro que pagamos caro.

Queria ter uma ideia do que será o novo mundo. Gostava de sonhar com ele à noite, de ter uma premonição. Gostava que Deus mo revelasse, mas nada acontece.
Julgo que teremos menos bens, que consumiremos menos, não apenas nós, mediterrânicos, ibéricos, países do alho e do tomate, mas todos, contudo não sei como vai acontecer. Percebo que o novo mundo não poderá ter um Centro Financeiro, portanto esqueçam os escravos da China. O novo mundo não é lucro, e a China tem os pés tão de barro como o WTC. Por isso me espantou ver na tv, anteontem, a notícia de que os nova-iorquinos podem agora contar com um novo edíficio mais alto que o World Trade Center, e que essa é a prova de que eixo do mal não venceu. Sorri sozinha enquanto o homenzinho falava. Parecia-me uma criança a dizer, "ele estragou-me o meu boneco, mas o meu pai, agora, comprou-me outro muito maior e melhor".
Não aprenderam a lição. Ainda não aprenderam. Manhattan não é centro de coisa alguma, as pessoas vestidas em fatos executivos transacionando em arranha-céus apenas jogam computador e tudo está prestes a dar uma volta tão grande que, como é que hei-de pôr isto em termos que se entendam? Tenho pena deles?

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