Não sou normal


Pergunto-me porque casam as pessoas e não encontro uma resposta satisfatória.
Lembro-me que num tempo muito velho, muito atrasado desejei casar, ter filhos, uma casinha. Era um sonho de paz e normalização. O meu marido gostaria de mim sem obstáculos. Quando nos desentendêssemos, haveríamos de chegar a um acordo, porque um de nós cederia a sua posição, dialogaria. Os filhos seriam lindos, bons e estudiosos. Não nos aborreceríamos porque a casa estava suja e desarrumada, e o carro precisava ser levado à inspeção ou outros. Jamais iria à varanda gritar "vai-te embora, gordo, vai", quando o meu querido saísse de casa batendo com a porta, e tenho a certeza que, no dia em que tivesse ciúmes do meu colega José António, não me atiraria à parede a terrina de porcelana que herdei da minha avó materna.
Sonhei isto num tempo distante. Não sei porquê, mas deve corresponder ao que imaginava sobre a vida dos outros. Era um modelo e uma forma de construir um fim para a vida.
Foi tudo diferente. Do sonho todo, mantenho a ideia da casinha, mesmo desarrumada, e olhando para trás pergunto-me porque casam as pessoas. Não encontro uma resposta satisfatória.

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