Quero emigrar para outro mundo



Hoje voltou a falar-se de questões relacionadas com o aborto legal. Alguém se lembrou que as mulheres que abortam devem assinar as ecografias e nelas apor o número de semanas de gestação. A medida, tal como é apresentada, parece-me inútil, contudo é importante haver formação cívica sobre este tema, porque a despenalização do aborto não pode passar a ideia de que se trata de uma forma de contraceção. Não há muito tempo deparei-me com o caso de uma estudante de 17 anos que já tinha realizado, no espaço de 3 anos, 10 interrupções de gravidez, entre legais e ilegais.
Numa sociedade ideal as coisas seguiriam esta ordem: a mulher tomaria conhecimento de uma gravidez indesejada, que não conseguiu evitar usando métodos de contraceção, consultaria os serviços de psicologia do seu posto médico, após o que seria remetida para o hospital para realizar a interrupção, sempre antes das 10 semanas. Funciona desta forma na Suécia, por exemplo.
No nosso mundo não ideal, engravida-se e aborta-se sistematicamente, muitas vezes após as 10 semanas de gestação, e o assunto vai sendo escamoteado. Se somos civilizados para despenalizar a interrupção da gravidez, direito que sempre defendi, devemos assumir a responsabilidade de formar técnicos de saúde física e mental para apoio às mulheres que recorrem a estes serviços. Para as que abortam por sistema e para as restantes. Abortar é um direito, somos totalmente donas do nosso corpo e das nossas barrigas, mas abortar não é o mesmo que ir à pedicura tirar calos, portanto, muito trabalho há para fazer nesta área, e não me parece que levantar o assunto seja um atentado aos direitos das mulheres.

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