Estamos aqui


Não conheço o António Lobo Antunes e não li nenhum dos seus últimos livros, essencialmente por ser estúpida e não andar com paciência para resistir ao universo circular-obsessivo que passou a criar. Quando acabo de aspirar a casa e preparar aulas prefiro literatura de prazer, ordenadinha, tradicional, que não me dê trabalho, consciente, mas de costas viradas para a obrigação de saber que a arte está muito para além. Entre o saber e o fazer vai toda a distância das estradas nacionais secundárias que ligam Vila Real de Santo António a Bragança, percurso que, por mim, começaria a percorrer amanhã de manhã. Portanto, não tendo lido a sua obra, e não havendo sobre o assunto nada a dizer, resta-me declarar que gosto do homem. É bizarro, talvez inapropriado, mas sinto ternura apenas porque não tem vergonha de dizer "fiz aquilo porque a minha editora me pediu muito e não quis desagradar-lhe". O Lobo Antunes obedece à sua editora. Faz o que lhe pedem. "Está bem, ó, Piedade, é uma grande chatice, mas pronto, faço". Reconheço-me nisto. Também faço muita coisa que não me apetece para não dececionar quem mo pede, por deferência, delicadeza, amor. Estamos aqui com tanta gente à volta. Se vivêssemos sós no cu do mundo poderíamos ser livremente casmurros e nossos, mas, estando aqui, limitamo-nos a dizer que não aos vendedores de tv cabo e a estar sozinhos em casa de vez em quando.

Mensagens populares