É idealista, coitada




Daniel Stoole

Regressemos à política e para isso convém clarificar a etimologia do vocábulo. A política é a atividade desenvolvida pelos políticos dentro da pólis e a seu favor. A pólis é a cidade e político é cada cidadão. Se seguirmos a etimologia, eu sou uma cidadã profundamente envolvida na política do meu espaço. Sei que estas noções se perderam, mas vale a pena voltar a elas para que sejamos capazes de reedificar uma política na qual nos possamos rever e reencontrar.
O sistema político que temos não só não serve a pólis como nos excluiu da política, tornando-nos agentes passivos que não somos. Portanto, aquilo que temos em Portugal e na Europa já não interessa há muito tempo, o que se tornou óbvio quando percebemos que a corrupção não era exclusiva do terceiro mundo, mas tão nossa como deles.
A minha questão é saber se queremos manter a alternância entre Passos e Sócrates. Uma pergunta  retórica muito básica. Acreditam que Sócrates vive com uma única conta bancária na Caixa Geral de Depósitos, como se fosse professor do ensino secundário? Acreditam que precisou de pedir um empréstimo ao banco para fazer estudos em Paris? É disto que falo. Queremos clareza, autenticidade. Queremos que nós mostrem as grelhas excel com os cálculos verdadeiros, não os forjados. É que eu tenho aqui as minhas feitas para mostrar aos alunos e encarregados de educação que pretendam verificá-las na próxima terça-feira, e portanto não admito exceções. É gramática, 15%; produção textual, 25%; compreensão da leitura, 25%; compreensão e expressão oral, 25%; atitudes, 10%; resultado final, 14,32.
Não tenho um pingo de fatalismo no sangue. O fado não me assenta. Sei que há um futuro a médio prazo, para mim, e a longo para os vossos filhos, e terá de ser melhor porque já aprendemos lições e amadurecemos civilizacionalmente. E a questão é que futuro queremos agora, destruídas as ilusões da Europa? Que ideias temos para uma nova pólis? Como pretendemos contribuir para a sua reconstrução? Quem são os homens e as mulheres em quem podemos confiar para gerir a nossa casa enquanto nos dedicamos a outras tarefas? Partidos? Organizações? Indivíduos? Temos de discutir publicamente tudo isto e organizar-nos.  E mais: é urgente fazê-lo.

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