O regresso do Anti-Cristo




A entrevista a Sócrates foi antológica, eventualmente histórica, porque Sócrates argumentou com atenção aos pormenores, vigor, emoção, brilho e precisão. Dominou totalmente a entrevista. Foi o espetáculo retórico, não excluindo a poética! Citou-se Dante, e mesmo sem este encontraríamos nesta entrevista matéria para muito verso épico ou lírico. Temos aqui um mestre, sem ironia! Que pena ter perdido a inocência política, caso contrário teria o meu voto nas próximas eleições. E esse é o motivo que poderá transformar esta entrevista num momento histórico, já que a legítima possibilidade de defesa que lhe foi oferecida, e a presente abertura ao comentário político pro bono, levará à eleição de Sócrates para o próximo Governo, se nada mudar entretanto. Obviamente, voltará à vida política, porque todos aceitamos que os planos de hoje não são os de amanhã.
Ao longo da entrevista repetiu-se várias vezes o vocábulo “narrativa” a propósito da performance do execrável atual governo, e foi essa a ideia dominante do discurso político-ideológico de Sócrates. Apresentou verosivelmente a sua narrativa sobre a narrativa, e o problema é meu, sei, mas já me custa tanta ficção. Não serve. Quero diários, cartas, tudo exposto.
Admito que gostei do espetáculo. Admito que jogador conhece as regras e joga bem. Tirando Paulo Portas, não estou a ver talento similar. É pena ser um espetáculo viciado, como as touradas, no qual sabemos antecipadamente que o touro, cada um de nós, vai morrer, e que, portanto, tem de acabar.
Sempre tive para Sócrates o epíteto do anti-Cristo. Carrego sem carga uma referencial formação católica, que domina o meu discurso e pensamento, e não podia tê-lo classificado melhor. Lembro, por isso, as escrituras, de viés, e muito por alto: o demónio fala bem, fala doce, é belo, agradável, está do nosso lado. Tal e qual como Passos Coelho quando chumbou o execrável Governo PS há dois anos. Estava contra os cortes nas pensões, certo? Ia salvar-nos, certo?

Senhor, Senhor, eu sei que estamos na Quaresma, mas porque nos abandonaste?

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