Conversas com a terceira idade

Aleksander Kufar

- Tomaste o Lasix de manhã?
Silêncio. Ouve mas não responde, como se lhe tivesse falado numa língua muito estrangeira.
- Hoje de manhã tomaste o diurético?
Continua sem responder, tentando perceber se não compreende pela surdez ou porque eu esteja mesmo a articular uma língua totalmente desconhecida.
- Ó, mãe, tu hoje tomaste o remédio para mijar?
- Tomei, tomei. Logo de manhã. Sempre. Todos os dias. Há anos. Desde que o Dr. Silva Paulino mo receitou pela primeira vez. Nunca falha. Nunca. Sempre de manhã. Aquele pequenino. Tomei. Nunca me esqueço. Oh, há anos e anos! O Dr. Silva Paulino é um grande médico. Ele é que mo receitou. Tomei, pois. O Dr. tinha aquele bigode muito grande. Não gostava nada dele. Depois habituei-me. Ele é que mo receitou já nem sei há quantos anos. É um comprimido de que nunca me esqueço. Tomo sempre. Ai de mim se não tomasse. O que me vale é o Dr. Silva Paulino. Mas que nunca falha! É o segundo comprimido que tomo. O primeiro é aquele do estômago, depois esse, depois a cortisona e o do coração. Logo de manhã. Tomei, pois tomei, e...
- Está bem. Já percebi.
- Agora o pior são os intestinos. Precisava de kivis.

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