A cadela selvagem

Era uma vez uma cadela selvagem que vivia dentro de casa e queria dormir sobre e manta depositada no sofá. Queria a manta, não o sofá, por isso puxava-a para o chão com a boca, como se fosse uma cadela inteligente, domesticada; uma daquelas cadelas humanizadas que não saberiam viver sem malga de ração. Amarfanhava a manta com as patas, como se escavasse um covil na terra e nas folhas e deitava-se, consolada. Era uma cadela que se portava muito mal e ninguém a queria. Diziam à dona, "livra-te dela. Nem todos os cães podem ser salvos". Mas a dona pensava, "se eu não a guardar, ninguém guardará?!" A cadela selvagem lá foi passando entre as gotas da chuva de regras que os cães têm de cumprir para serem domésticos. O futuro pertencia-lhe.

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