Preto bom

Pedi a um homem preto que mora aqui perto, e anda ao ferro, que levasse as coisas velhas e avariadas lá de casa: um frigorífico, duas televisões. O resto cabe-me separar. O homem foi e levou tudo. Trouxe o frigorífico para a rua e desmantelou-o, peça por peça. De um lado o plástico, do outro o ferro, do outro a esferovite, os parafusos. Gostei de ver o objeto reaproveitado. Não gosto de deitar nada fora.
Imaginei que o homem fosse de Moçambique. Tinha um ar de preto à antiga. Preto bom. Tenho sempre esta ideia de que os pretos bons são de lá. Não sei se este homem em concreto é um ser bondoso. Para dizer a verdade, no dia seguinte passou por mim e não me cumprimentou, o que desmanchou um bocado esta construção. Nunca tendo sido colonialista, hei-de ter sempre o meu lado colonial. Aquele que associa o preto à vítima, ao que carece de ajuda. Não faço isso por mal. O mundo era assim quando cá apareci. De uma forma ou de outra, ainda é.

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