The lonely one

A menina do bar disse na brincadeira que sou " the lonely one", e por isso me posto no balcão a pegar com ela. "She needs attention", responde a uma outra professora que lhe pediu a "fresh cheese roll". Rio-me. Mentira, tenho uma enorme vontade de chorar, mas rio. Acertou em cheio. Como é que ela sabe? Pespego-me à sua frente com a meia de leite que só ela sabe tirar como gosto e digo-lhe, "você hoje está mal disposta". Nada. "Não fala comigo, porquê?" Não olha para mim. "Como é que tem coragem de me ouvir e de nem olhar para mim?" Ignora-me. "Eu sou tão querida consigo e você não gosta de mim. Porque é que não gosta de mim?" Nem se volta. "Que feitio! É má como as cobras; coitado do seu marido", e outras baboseiras, todas as que me ocorrerem até ela me dar atenção. Não a largo. Sou uma chata. Pareço um daqueles homens casados que se põem a cortejar meninas simpáticas com as quais têm confiança, só pelo prazer de as ouvir, arreliar . Adoro que interrompa o que está a fazer e me olhe de baixo para cima com um ar falsamente sério, respondendo "a professora acha que não tenho que fazer?! A professora acha que estou no intervalo?!" "Ah, afinal fala! Está bem que não esteja no intervalo, mas podia dar um sorrisinho por piedade para com alguém que está com uma grande pedra de sono."
Gosto mesmo dela. Há pessoas de quem eu gosto mesmo, mesmo, mesmo, como se fossem minhas irmãs ou qualquer coisa do meu sangue.

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