Ah, que confortável ser fatalista!


Teresa, Mariana e Simão, em Amor de Perdição, aceitam o que o destino para eles guarda, tal como Manuel, Madalena e Maria em Frei Luís de Sousa. Não há grande luta, nestas personagens, a não ser íntima. Não há saída, portanto aceite-se o degredo, o convento, a morte. Estas personagens encerram o ADN da cultura portuguesa. Somos infelizes, tratam-nos mal?! Sim, mas não há solução, não vale a pena lutar, portanto aceitemos. É nestas alturas que acredito na astrologia. É possível que o facto de ter nascido numa diferente latitude e longitude tenha estragado a formação de mais um admirável caráter masoquista. Marte ou Plutão estariam posicionados uns milímetros mais à frente ou atrás

Recentemente propus, pelo facebook, uma ação política conjunta a mais de meia centena de pessoas com voz e responsabilidade cultural: escritores, jornalistas, pensadores, artistas plásticos, realizadores e técnicos de cinema. A resposta teve o seguinte eco: quem estava no estrangeiro e não podia participar presencialmente, apoiou a ideia. Quatro pessoas a viver em território português aceitaram. Duas mostraram interesse, mas a sua participação dependia de algumas condições (saúde/folgas). Uma pessoa não aceitou e explicou porquê. As restantes não responderam ou "saíram da conversa", pelo que deduzo que tenham projetos individuais ou não lhes tenha agradado ou não pretendam manifestar-se seja de que forma for. Algo me diz que a as duas últimas associadas constituem a resposta certa.
That's the spirit! Exprimir o que se pensa, racionalmente, sobre a humilhação a que somos sujeitos?! Não! Fazer barulho revela falta de educação e nós queremos parecer desenvolvidos como os suecos! Sabemos que não vale a pena, portanto para quê darmo-nos ao trabalho?!
Não estamos felizes com o que nos está a acontecer, mas tem de ser. Temos de nos calar e sofrer, como os nossos pais, avós, bisavós. É a vida! E a culpa é um bocado nossa, se virmos bem, porque pusemo-nos a pensar que podíamos ter  uma existência desafogada, relativamente confortável, como se não fôssemos pobres desde sempre. Está-nos nos genes, a pobreza. Agora, é aguentar. Nada a fazer. Eles é que mandam.
Isto estaria tudo muito bem se se tratassem dos homens do café, cuja filosofia não vai além da estratégia de futebol. Agora, meus senhores, gente que ganha prémos literários, gente que faz crítica, que pensa e escreve?! Que sabe e pode exprimir ideias?! Que vergonha sois para vós, para o mundo e quem vos trouxe a ele! 
É isto a cultura portuguesa! Que não dê trabalho! Que não tenhamos de passar vergonhas! Temos ainda razoável liberdade de expressão, mas considerando a quantidade de que parecemos precisar, é liberdade a mais.

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