Eu quis tê-lo

Para a Mariana

Não é verdade que acredite em tudo. Acredito em certas coisas, sobremaneira no destino. Toda a gente sabe.

Tinha eu 17 anos e tive um grande amor não correspondido por um Vicente, amigo de uma prima minha. Estava sempre metido lá em casa, e era um grande macho, morenão, alto, lindo mesmo ao meu gosto. Ensinava-me a acender a lareira e muita conversa, mas sem concretizações, para além de que saía muito com uma tal de Mena, de cabelo castanho-claro ondeado, com blusas claras justas e umas grandes mamas.

A Mena tinha um Fiat branco e o pai era rico, proprietário de indústria de carnes, gente de muita posse. Nunca pus a mão no Vicente nem ele em mim, mas sonhei e sofri muito à sua conta. Fantasiei beijos na praia ao final da tarde, mãozinhas e tudo o que as raparigas com hormonas atiçadas sonham.

Um par de anos mais tarde, o Vicente casou com a Mena, os dois de branco, com muita flor, muita grinalda, muita menina com folhos, e baile e marisco.

Há uns anos, numa ida à terra, pelo verão, perguntei por ele à minha prima Cesaltina. Respondeu-me, muito desprendida das coisas passadas e vastamente sabidas.

- Ah, não sabes?! Divorciaram-se logo a seguir. A Mena apanhou-o em flagrante, na cama, com um dos colegas que o acompanhava na empresa do pai. Uma cena de sexo tórrido. Um Almodovar. Foi o fim do mundo. Aquilo acabou logo ali.

Dei uma gargalhada. O destino sabe muito bem os caminhos que não guarda para mim.

Mensagens populares