Onde e como enterrar um poeta

Mato inculto, savana, tundra que os animais da terra e do ar habitem, e nele procriem, se abriguem e defequem.
Muito ao longe, em múrmurio, vozes de mulheres que cantam a vida e a morte indistintas e o baque seco dos homens que são escravos de outros escravos, suor sem consciência nem fim.
 Nesse lugar longe, despovoado, cava-se o buraco fundo, com uma pá difícil, para dentro do qual se atira a carcaça desanimada e sem sudário. Não interessa como cai. De bruços, de joelhos, todo torto. Pfff.
 Atulhem a cova. Lancem sementes à terra remexida. Não rezem, não digam nada. Só talvez um "valias tão pouco que nem morrer, morres". E venham-se embora.

 À Sophia, de quem não admito gostar.

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