Apocalipse

A crise dos 60 será mais leve que a dos 50? 
A minha coleção de cd's tornou-se de repente vã. Não quero ouvir as músicas que não respondem ao que necessito. E necessito de quê? 
Tenho o escritório cheio de livros que não sei para que adquiri. Três paredes até acima. Aborrecem-me. Blá, blá, blá, blá, nada, nada. Um ou outro.
É tudo mentira, está tudo envenenado de matéria, aparência, ardil, orgulho, egoísmo, e agora já não não é uma ideia que se possa ignorar, uma coisa abstrata, vaga, mas um corpo enorme que se impõe, se faz ver e me afronta. 
Fiz tudo errado. Onde quis acertar, não consegui, mesmo lutando, arranhando, escavando. 
Na rua deixei de ver gente livre. Cruzo-me com os escravos das escravaturas diversas, todos apropriadamente agrilhoados, e mais cegos do que eu. Lamento-os. Tanto sofrimento assumido como «a ordem normal». Paro, atordoada, contemplando, imaginando, especulando sobre o vazio das vidas. 
De repente dei comigo sozinha comigo. Estamos as duas uma e não nos encaixamos uma na outra. Há um elo que não encontrei. Deve andar aí. Hei-se encontrá-lo um destes dias. É por isso que pergunto se aos 60 será mais fácil. Tenho de ter algo por que esperar.

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