O meu enorme ego


No meu círculo de amigos, ultimamente, fala-se muito de ego, e normalmente a conversa acaba no meu. Sou autoritária. Não gosto de ser contrariada. Continuo muito teimosa. Estou convencida de que eu é que sei, e faço só o que bem entendo sem piedade pela opinião alheia. Por aí fora. É tudo verdade. Sou autoritária, não gosto de ser contrariada e a maior parte das vezes eu é que sei, e faço mesmo só o que entendo. Sou teimosa, felizmente, o que me tem tornado capaz de viver autonomamente, portanto levo décadas a desistir de projetos. Esgoto as suas possibilidades. Registe-se uma ressalva em minha defesa: digo o que observo e penso, mas não pretendo converter. Se o que penso e exprimo serve alguém, melhor, se não, adiante. Não têm de me prestar contas das suas ações nem de se justificar. Aceito cada um com as contingências que o caracterizam, durante algumas horas por dia, desde que me seja possível recolher ao meu habitat, onde sou autoritária e teimosa só comigo. É o Jardim do Éden. Não passo os dias a nomear e censurar o ego alheio. Não me ocorre. As pessoas são como são. No máximo penso "é chato(a), livra!" e circulo. A constante nomeação do ego, do aquietar da mente e do namasté,om shanti om, por vezes, a mim, parece-me um estado autoritário, por enquanto soft. Há quem leia este enunciado e pense "coitada, está num estádio de desenvolvimento espiritual ainda muito primitivo". Estarei, mas estados autoritários só se não lhes puder fugir. Sou a favor do desprendimento, do nirvana, do desaparecer daqui para fora e não ter de sofrer o mundo, tudo o que queiram, mas evitem culpar os gigantescos egos dos vizinhos do lado. Há momentos em que me apetece responder como quando andava na primária e nos insultavam: "quem diz é quem é".

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