Especulação sobre a estupidez


Escrever sobre gordos é um trabalho sujo, mas alguém tem que o fazer.

Há uns tempos li no jornal i que um deputado da direita alemã preconizava aumento de impostos para os gordos, como forma de compensar o Estado relativamente aos seus gastos em saúde. É uma falácia, porque se os gordos dessem despesa ao Estado em questões de saúde, não estariam gordos. Na verdade, os gordos vão pouco ao médico, e, quando vão, mentem largamente, dizendo-lhes o que querem ouvir, porque, como qualquer drogado, sentem-se culpados e envergonhados da sua compulsão alimentar.

Para penalizar os gordos em impostos, e já lá irei sobre se isso seria útil, conviria alargar a medida igualmente aos fumadores, aos alcoólicos, aos anoréxicos e bulímicos, a quem pratica sexo não seguro no jardim do Parque Eduardo VII às duas da manhã, aos condutores que não cumprem regras de trânsito, ao pessoal que ouve música muito alto e apanha sol na praia todo o dia, apesar das campanhas relativamente ao uso de protetores e cuidados com a exposição solar. Resumindo, dois terços da população portuguesa teria de pagar mais impostos, mais ainda do que o já paga, para nada, porque nunca vi um aumento de impostos melhorar seja o que for neste país. Mas, seja, consideremos esse cenário futurista no qual os elementos de uma dada cultura poderiam ser responsabilizados por um comportamento, como se ele não fosse consequência dessa própria cultura. Resultaria? Haveria quem preferisse pagar mais impostos e continuar a apanhar sol e a comer éclaires, e os que se refreariam. A mim dava-me um certo jeito, confesso. Não sei se não passaria a ter muito mais cuidado com o que como, sobretudo com a forma como como, as horas a que o faço, etc., se me tirassem 100 euros por mês. Para quem, como eu, se sente preso no seu padrão de comportamento, na sua indisciplina, nos seus genes, qualquer solução, mesmo fascista, seria aceitável. Em muitos casos, a medida serviria apenas para aumentar a dívida dos cidadãos ao Estado, e agravar o problema pelo qual estariam a ser penalizados.

Defendo que cada um tem direito à sua parcela de disparate público. Defendo que qualquer pessoa se possa meter na política (e temos observado que é mesmo assim: qualquer um lá chega). O que me parece grave é a junção dos dois direitos: dizer dispares públicos e, simultaneamente, ter conquistado um lugar político com direito a página no jornal.

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