O genocídio laboral de toda uma geração
A maior parte dos trabalhadores por conta própria ou de outrem, com carreiras bem sucedidas, e rendimento líquido satisfatório ou bom sonha com a idade da reforma. A reforma configura-se como uma época de ouro na qual poderemos ser livres e realizar os nossos sonhos de leitura, viagens, e fazer aquilo de que realmente gostamos.
E a pergunta impõe-se: passamos as décadas da nossa juventude e vida ativa fazendo aquilo de que não gostamos? Vivemos contrariados para conseguir viver com conforto? Resposta: na maior parte dos casos, sim! Há muito poucos capazes de escapar a esta sina: os que encaram a sua carreira como uma missão ou uma arte: artistas, naturalmente, e professores, médicos e outras profissões carregadas de oportunidades de altruísmo. Interessam-me particularmente os primeiros, por serem um exemplo evidente e reconhecido deste tipo de percurso. A Paula Rego continua a pintar, o Lobo Antunes a escrever, o Leonard Cohen e o Manuel de Oliveira caminharam até ao último suspiro. Os artistas param quando a doença os impede, o que me leva a pensar que não encaram o trabalho como trabalho. Ou seja, o trabalho não existe em oposição à vida. Ele e a vida formam uma amálgama que se funde e completa a cada momento. Para os artistas o lazer faz parte do processo de labor e o momento de trabalho, sendo seriíssimo, é vivido com o prazer do lazer. Uma reforma que correspondesse a uma retirada de atividade corresponderia, para eles, a uma anulação da sua vitalidade, pensamento e criatividade. Ser-lhes-ia insuportável.
E a pergunta impõe-se: passamos as décadas da nossa juventude e vida ativa fazendo aquilo de que não gostamos? Vivemos contrariados para conseguir viver com conforto? Resposta: na maior parte dos casos, sim! Há muito poucos capazes de escapar a esta sina: os que encaram a sua carreira como uma missão ou uma arte: artistas, naturalmente, e professores, médicos e outras profissões carregadas de oportunidades de altruísmo. Interessam-me particularmente os primeiros, por serem um exemplo evidente e reconhecido deste tipo de percurso. A Paula Rego continua a pintar, o Lobo Antunes a escrever, o Leonard Cohen e o Manuel de Oliveira caminharam até ao último suspiro. Os artistas param quando a doença os impede, o que me leva a pensar que não encaram o trabalho como trabalho. Ou seja, o trabalho não existe em oposição à vida. Ele e a vida formam uma amálgama que se funde e completa a cada momento. Para os artistas o lazer faz parte do processo de labor e o momento de trabalho, sendo seriíssimo, é vivido com o prazer do lazer. Uma reforma que correspondesse a uma retirada de atividade corresponderia, para eles, a uma anulação da sua vitalidade, pensamento e criatividade. Ser-lhes-ia insuportável.
Se compararmos o exemplo artístico de envolvimento entre labor e lazer com a nossa própria experiência percebemos que algo está errado com a forma como trabalhamos. Se desejamos que termine porque nos está a destruir, não trabalhamos de forma correta nem saudável. Provavelmente o que está mais profundamente errado no sistema laboral tradicional prende-se com a exigência de elevadíssima produtividade. Esta não é amiga da perfeição porque não respeita o amadurecimento das ideias nem o resultado do processo laboral. Precisamos de trabalhar mais lentamente, com menos pressão, para que o trabalho não nos transforme numa bigorna do mercado.
No outro dia li na Imprensa que dos jovens trabalhadores recentemente entrados para o mercado de trabalho se exige que sejam capazes de trabalhar sob grande pressão, argumentado que esse tipo de exercício desenvolve as capacidades de raciocínio. Esbocei um sorriso cínico e doído. As organizações económicas e sociais sabem produzir os discursos que melhor servem os seus objetivos. Os discursos funcionam porque as ideias muito repetidas tornam-se verdades para quem ouve, sem tempo para pensar nas consequências, quanto mais nas origens, mas uma verdade-falsa nunca passará de uma mentira, por vezes de um crime de genocídio de toda uma geração.