Considera sórdida a cobertura feita pela TV do incêndio na EN236-1 mas continua a ver e a comentar?

A floresta é linda.

Na guerra, uma das formas de se descredibilizar o ataque é desvalorizar as baixas. Se não há baixas, não há ataque e se não há ataque estamos bem. O governo de Salazar fez isso com bastante eficácia durante a guerra colonial. 
O terrorismo tem interesse em ações localizadas nos grandes centros de turismo e cultura europeus pelo fenómeno contrário: um ataque no qual morrem dezenas de pessoas não passa do mecanismo de ignição que ocasionará uma cobertura mediática massiva e pornográfica: e essa é a verdadeira explosão que almejam. O terror não é, assim, causado pela morte de 60 pessoas. O terror é causado pelo eco que a exploração mediática da morte de 60 pessoas tem nas emoções do público, construindo o medo. Ninguém neste momento consegue viajar para Paris, Londres, Bruxelas ou  Nova Iorque sem pensar que corre riscos, embora sempre os tenha corrido. Talvez uma das formas mais eficazes de combater o terrorismo, tal como existe, consistisse no boicote informativo generalizado a qualquer ação concretizada. Para as vítimas, a existência de informação ou a ignorância absoluta é igual.  Imaginemos a ocorrência de um ataque gravíssimo num concerto de rock?! A Imprensa informaria sem ênfase, no âmbito do boicote acordado entre Estados e media, tal como se notícia uma queda de granizo que destruiu toda a colheita de cereja no Fundão. E o público conheceria a existência deste boicote e poderia compreender o fim a que se destinava. Parece demasiado frio?! Para grande males, grandes remédios!
Isto vem a propósito do espetáculo sórdido e macabro que as televisões vêm apresentando sobre a dor e o horror do incêndio na EN236-1 entre Pedrogão e Castanheira de Pêra. É o interesse do público que justifica e alimenta a cobertura. É o vosso visionamento e são os vossos comentários nas redes sociais que validam tudo aquilo que censuram aos media. Boicotar não vendo e/ou não comentando, diminuiria os índices de audiência, logo baixaria o interesse publicitário, logo controlaria o descalabro a que assistimos.
Desgraças acontecem todos os dias, em todos os lados. Não as evitamos disseminando o macabro. Evitamo-las, unindo esforços na edificação de qualquer coisa a quem alguém chamou um dia o Portugal Futuro.

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