Ia indo presa por causa das autárquicas


A democracia não é perfeita. É um exercício de trapézio cuja única rede consiste no facto de sabermos que, se não correr bem, daqui a 4 anos acertamos o passo. É por vezes corre mesmo muito mal.
Amanhã é o dia em que vamos eleger os nossos "governos regionais", aqueles que hão de gerir o financiamento do governo central e a vidinha de cada concelho.
Este mês tem sido um ror de atamancamentos no concelho de Almada. A minha rua teve direito a ver os buracos do passeio calcetados e ganhou novo asfalto. Tive uma altercação com o polícia de serviço, com idade para ser meu filho, que não me autorizava a sair do prédio. Parecia um jovem nazi dos que vemos nos filmes e fotos, só lhe faltava o cabelo louro e os olhos azuis. Dei-lhe umas respostas que o predispuseram a levar-me presa. Depois pedi-lhe eu a identificacão e a coisa amainou. Há duas formas de lidar com o poder e depende do contexto. Ou exibimos um poder maior e amedrontamo-lo ou, caso não tenhamos tempo, para despachar, fazemos que não percebemos e desempenhamos o melhor papel de ignorantes. Uma coisa é certa, quem tem problemas com o poder tem tendência para o exercer. Cuidado.
No próximo boletim de informações do meu concelho há de aparecer uma fotografia sobre os melhoramentos que cá vieram fazer e ao fundo verão uma mulher e um jovem fardado à bulha. Sou eu e o nazi.
Tratar das ruas, muros, bermas, cortar erva, podar árvores, ajardinar não são melhoramentos, é a obrigação da autarquia. São os serviços básicos, os mínimos. É como se o pai fosse dar banho aos filhos. Não carece de publicidade.
O poder local, quando se instala, é como qualquer outro: embebeda-se. É um perigo. Por isso é que muda. E convém mudar. A democracia não é perfeita nem parva. Enquanto não inventamos nada melhor convém participar, mesmo quando não nos sentimos totalmente confortáveis. À cautela, entre fazer nada e garantir o mal menor, coisa horrível de se dizer ou escrever, convém optar pelo segundo.
Votem. Há quem gostasse de o fazer e não pode. E bem perto de nós. O poder do voto é muitas vezes a única esperança que nos resta de mudar o pequeno mundo que nos rodeia, esse que influenciará outro e depois outro até chegar lá longe, onde gostaríamos de ir diretamente.

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