O bondage da bondade



Foto de @Olga Ageeva



Alguém escreveu numa rede social, “o mundo precisa de mais bondade”. Li a postagem e não comentei a não ser mentalmente. Pareceu-me de desconfiar. Que o mundo precisa é de bondade é a primeira de todas as verdades. Alguns comentaristas corajosos concordaram com o utilizador da rede social, por norma um criativo bem-humorado, cuja afirmação se estranhou. No dia seguinte, o mesmo utilizador esclareceu, “desculpem, o post de ontem resultou errado por causa do corretor ortográfico. O que eu queria dizer é que o mundo precisa de mais bondage.” Todos riram. Agora, sim, havia coerência. Bondage, sim. Vamos rir. Eu estou entre os que se riram.
A bondade deixou de ser uma qualidade. Não sei se alguma vez foi. É uma vergonha ser bom. Ser bom é ser mole, ser fraco e vencido. Há em nós uma bondade intrínseca contra a qual lutamos todos os dias, por não ser boa ideia evidenciá-la. Ninguém lhe acha graça. Há uma bondade que passamos a vida a calar, a controlar.  E, contudo, se há algo de que o mundo precisa é de bondade. Mais nada.

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