Aqueles que representam o tempo das nossas vidas

Morto, 2009 [foto obtida a partir de imagens televisivas]


Lembro-me que tinha acabado de chegar de 40 graus em Paris, com os pés em sangue, e na manhã seguinte a minha mãe acordou-me, anunciando-me, Diana morreu. Levantei-me da cama em estado alterado. Como poderia ser tal coisa? Sentia-me chocada. Mas que diferença haveria, para mim, entre a morte de Diana e a de uma prima cancerosa, no mês anterior? Conhecia a minha prima querida e não senti choque tão profundo. Quem era essa Diana, e o que fez para além de ser princesa em Gales, oh, tarefa árdua?!

A diferença entre a minha prima cancerosa e Diana de Gales é que a segunda constituia, para mim, um ícone cultural, e com ícones não se brinca, porque representam mundos: ela representava uma certa ordem que não funcionou. O casamento de sonho, o casamento falhado, a maternidade autónoma, a beleza convencional. Uma mistura entre o velho e onovo mundo.

Aconteceu-me o mesmo hoje, com a notícia sobre a morte de Michael Jackson. Vejo muitos jovens de 20, 30 anos, na blogosfera, comentarem o seu desaparecimento, mas para quem viveu com ele os anos 80, e imaginou o seu futuro enquanto passavam, na rádio e na tv, as suas músicas, é uma perda estranha. Caramba, eu namorei a ver telediscos do Michael Jackson. Estão a brincar!
Há pouco um video de uma canção sua de que gostava tanto, e só quis chorar. Era tão jovem, tão bonito, e a vida tratou-o tão mal. Não quero ouvir uma palavra sobre os seus exageros, os seus erros - eu também cometo os meus.
O que se perde com o desaparecimento de MJ? Nada de maior, verdadeiramente. Ele já tinha desaparecido pelos meandros da sua decadência. Contudo, como símbolo de um tempo que é a nossa arqueologia, nossa dos de quarenta, ele importava. Como Diana, era ícone cultural de um tempo, de uma ideologia que enquanto vivessem, boa ou má, vivia. Se calhar, como diz Chavez, um ícone do capitalismo! Se o homem está certo, e deve estar, terei de comer o meu chapéu, mais cedo ou mais tarde. Mas por agora só consigo lembrar-me dos acordes de Billy Jean e o resto não me interessa a ponta de um chifre de veado. Eu nem sequer era fâ de MJ. Perceber isto até dói.


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