Noites de Verão
Para fugir a 30 segundos de um documentário em que nativos de uma tribo do Gabão se preparavam para sacrificar um lindo galo pedrês a fim de de curar uma doença, embora, por outro lado, tivessem pedido autorização à certa arvore para lhe retirar as folhas alucinógeneas necessárias ao mesmo ritual, apresentando-lhe desculpas e orações pelo mesmo motivo, dei comigo na SIC Radical, numa reportagem sobre a indústria dos filmes pornográficos portugueses. Aprendi muito.
Primeiro, que com 45 mil euros fazem dois filmes, cada um com cerca de cinco cenas. A maior parte do orçamento serve para pagar cachets, porque as actrizes porno portuguesas são as mais bem pagas do mundo. É preciso ir buscá-las. Não sei onde, mas talvez não seja informação relevante.
Alguns actores têm de ser importados, já que os candidatos portugueses carecem dos dotes físicos imprescindíveis para a optimização da actividade.
Segundo, que o consumidor português não quer história, mas sexo sempre a abrir, por isso não se considera produtivo investir em argumento.
Uma das actrizes da reportagem era muito, muito feia, mas graças a Deus usava uns grandes óculos escuros, pelo que deduzo que também fosse zarolha. Repetiu muito que não fazia anal, o que a desgostava muito, mas, pronto, não era capaz. A loura checa, parecia uma galinha acabada de sair da água, e era stringer - espero não me estar a enganar no inglês técnico - portanto, a sua especialidade era o trabalho a solo, conseguindo orgasmos muito molhados em apenas dois minutos. A minha preferida era a segunda portuguesa muito, muito feia, com uma boca enorme com dentes todos separados. Confessou ser nova na profissão, mas via-se que estava orgulhosa por ter chegado a este patamar da indústria cinematográfica. Ainda só tinha feito cenas lésbicas, e defendia que no mundo do sexo está tudo por aprender. Queria experimentar todas as variantes, e, em produções futuras, entrar no hardcore.
Quando lhe perguntaram o que considerava mais sexy no seu corpo, respondeu que era a boca e o "bumbum bonzão". O bumbum não vi, mas quanto à boca, acho que vou levar décadas para esquecer tal visão.
Quando voltei ao Odisseia já os doentes se encontravam sentados à volta da fogueira, pintados de branco, após ingestão da planta sagrada. O galo a sacrificar tinha desaparecido.