Águas muito correntes
Os cuidados de higiene a ter para evitar o contágio pela gripe A têm efeitos mais gravosos para o planeta do que para os humanos afectados. Vejamos: lavar as mãos pelo menos 10 vezes por dia é comportamento próprio de indivíduos com a fobia da sujidade. Há até quem as lave de meia em meia hora, mas, na melhor da hipóteses, anda a fazer psicoterapia da pesada. Analise-se o impacto que esta euforia de lavagens terá nos gastos de água em domicílios e instituições, bem como nas captações de água municipais.
Os delegados de saúde aconselham-nos a lavar as mãos durante 20 segundos, cada uma dessas 10 vezes. Nas torneiras à antiga, como as que tenho em casa, posso muito bem molhar as mãos em quatro segundos, fechar a torneira, ensaboar e esfregar as manápulas durante os tais 20 segundos e voltar a abrir a torneira para enxaguar por mais seis. Gastei 10 segundos de água e estou a ser generosa nos tempos. Mas na maior parte dos restaurantes, cafés, lugares da noite, centros comerciais, escolas e hospitais, ou seja, fora de casa, as torneiras funcionam de acordo com temporizadores regulados para os 12 segundos, tempo que se considerou suficiente para uma lavagem de mãos, pelo que não posso ser eu a controlar a quantidade exacta de água necessária. Será assim: molhamos as mãos em quatro segundos, tiramos gel do distribuidor - dois segundos - iniciamos o ensaboamento, a água ainda está a sair da torneira, mas deixa de pingar quando vamos no sexto segundo de ensaboamento. Tudo bem, acabamos a tarefa calmamente, palma das mãos, dedos... e accionamos de novo o temporizador para as enxaguar. Gastamos mais seis segundos e a água continuará a correr em vão por mais 12. No total, para lavar as mãos fora de casa gastei 24 segundos de água, mais do dobro do tempo que seria necessário. Ora, estes tempo de torneiras a verter água multiplicado por 10 vezes ao dia por um número x de cidadãos em todo o mundo parece-me coisa pouco ecológica, considerando que a água é um recurso escasso. Para quem está habituado a poupar água, tudo isto configura mais um atentado ambiental. Se não morrermos de gripe A é muito provável que morramos à sede.