Promessa
Milagre, 2009 [foto obtida a partir de video visionado em computador]
Poderíamos subir às árvores como adolescentes. Ele subiria primeiro e oferecer-me-ia a mão, porque, com o passar do tempos, perdeu-se a agilidade juvenil. Ou sentarmo-nos clandestinamente no telhado do meu prédio, sobre as telhas ainda quentes, tendando recordar quando foi a última vez que contemplámos o Cristo Rei nocturno na paisagem iluminada de Lisboa, ao fundo.
Outra hipótese: alugar uma casa grande e toda vazia onde pudéssemos fazer amor ao domingo à tarde. Eu coseria umas cortinas de pano cru e ele arranjaria maneira de as segurar sobre as janelas, se fosse homem para isso. Ou, em alternativa, sermos menos ambiciosos e sentarmo-nos numa mesa de café olhando um para o outro sem grandes conversas. Nada de livros nem de filmes nem de filosofias que apenas serviriam para justificar encontros inconvenientes.
Olharmos para a cara nua um do outro.
Olha, agora tens uns sinais na face esquerda. Parece que os olhos te escureceram. Nitidamente, fizeste 40 anos e isso não engana. Agora pintas o cabelo de louro mais claro. Já não róis as unhas. As tuas mãos estão iguais. Continuas a gostar de castanho. Agora já não dás gargalhadas frescas, sabes, aquelas gargalhadas dos 18 anos, que eram como água a sair das pedras. Os teus olhos estão mais tristes. Tens uma pestana na cara. Fizeste bem em rapar o cabelo. Fica-te bem. Pareces o Yul Breyner. Quem é esse? Um actor de quem o meu pai gostava. Ah! Tu deixaste crescer o teu. Pois deixei. Achas giro? Acho.
Chegava. Depois seguíamos o nosso caminho e na semana seguinte voltávamos a encontrar-nos noutro café qualquer. Poderíamos ler em conjunto as notícias do dia, comentar a política, por exemplo, e rirmo-nos dos aprendizes de Maquiavel. Rir é sempre um grande milagre. Ou então, sem alaridos, alugarmos a tal casa na praia. Eu cosia as cortinas e fazíamos amor pelo chão até gastarmos o parquet. E podia continuar assim até ao dia em que um de nós tivesse de ir ao funeral do outro, às escondidas. Para quê preocupações?! Não me venham com cepticismos sobre não haver uma outra vida. Claro que tem de haver, e nessa, prometo, eu prometo, estaremos juntos.
Chegava. Depois seguíamos o nosso caminho e na semana seguinte voltávamos a encontrar-nos noutro café qualquer. Poderíamos ler em conjunto as notícias do dia, comentar a política, por exemplo, e rirmo-nos dos aprendizes de Maquiavel. Rir é sempre um grande milagre. Ou então, sem alaridos, alugarmos a tal casa na praia. Eu cosia as cortinas e fazíamos amor pelo chão até gastarmos o parquet. E podia continuar assim até ao dia em que um de nós tivesse de ir ao funeral do outro, às escondidas. Para quê preocupações?! Não me venham com cepticismos sobre não haver uma outra vida. Claro que tem de haver, e nessa, prometo, eu prometo, estaremos juntos.