Projecto "Noite de Consoada" - Ensaio 2

- Mãe, tu lembras-te que eu gosto de escrever, não lembras?
- Lembro.
- Bem, então a novidade é que eu agora escrevi outro livro.
- Escreveste?!
- Escrevi.
- Então, o que é que andaste tu a escrever?
- Olha, andei a escrever sobre aquelas coisas lá de África. Como era a nossa vida, como foi a descolonização e a vinda para Portugal.
- Se o teu pai estivesse vivo é que te podia contar muitas coisas.
- Pois podia. Mas eu vivi muitas coisas com o pai. Ele levava-me para todo o lado. Levava-me para dentro do caniço, lá para o Xipamanine, e para as obras que ele tinha aqui e ali. Eu andava sempre atrás dele.
- O teu pai adorava-te. Eras a menina dele. Tinha um orgulho em ti! Nunca vi! Estava sempre deserto por chegar a casa para brincar contigo. E tu com ele.
- E eu adorava-o. E adoro.
- Coitado, não pôde gozar a velhice.
- Pois não.
- Então, e não vais dar um livro desses à Gina?
- Já dei.
- E à tua prima e à tua madrinha...
- É melhor não.
- Não, porquê?
- Para já, a editora deu-me poucos livros, e aquilo é caro. Depois, não lhes interessa. E o livro tem as letras muito pequenas, até a mim me custa ler.
- Tens aí algum para eu ver?
- Não, por acaso agora não tenho nenhum, senão mostrava-te. Dei o último à Gina.
- Mas podes arranjar mais?
- Posso, mas tenho de pedir à editora, e aquilo ainda demora. Quando tiver mais exemplares mostro-te. Mas é uma coisa sem grande importância. É só um livrito com textos que ia publicando na internet.
- Olha, Isabela, tu tens é que ter muito cuidado com a internet, porque eu vi no programa da Júlia que há muitas mulheres solteiras, assim como tu, que têm sido enganadas por homens por causa da internet.
- Mãe, uma fatiazinha de bolo-rei?

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