Look de 90 euros
Algumas pessoas ontem presentes na Fnac tiveram o prazer de falar com o meu agente. O que não sabem é que antes dos holofotes já ele me tinha arrastado para um canto do centro comercial a fim de criticar o meu look de 90 euros.
Disse-me o cavalheiro, "a menina deve pensar que ganha o suficiente em direitos de autor para os desbaratar em máscaras que fazem de si uma pessoa que não é?!"
Respondi-lhe, "mas estou linda, não estou? E este lançamento é em Almada, praticamente dentro de minha casa..."
Não se deixou convencer. "Concentre-se no que vai dizer, em lugar de embatucar cada vez que lhe perguntam por que escreveu o livro. Reflicta sobre o que escreveu e emita um discurso, se faz favor."
Encolhi os ombros e atirei-lhe, "senhor Simões, desculpe, eu não sou o Roland Barthes, nem quero ser." E
ele, venenoso, "não é, não. Esteja descansada que não é, e por este caminho nunca será. Enfim, menina, veja lá se diz qualquer coisa, e se não souber, sorria, que vocês, mulheres, têm sempre duas escapatórias: sorrir e chorar!"
Reclamei. Disse-lhe que não podia falar comigo dessa maneira, que eu tenho um diploma de especialização em Estudos Feministas. Já ele ia no corredor junto à Papelaria Fernandes, caminhando a passos largos. Diria, disfuncionais.
Mas o meu look de 90 euros foi um sucesso. Todos (excepto o senhor Simões) disseram que estava linda. E as minhas amigas e colegas também tinham ido ao cabeleireiro para se porem lindas para mim. De um momento para o outro senti-me uma pessoa amada, o que no meu caso é sentimento raro. Sei que sou inocente e ingénua tantas vezes, mas quero acreditar que todas aquelas pessoas que me sorriam e me beijavam, gostavam mesmo de mim; que estavam ali porque me estimavam. Quero acreditar nisso e não me interessa o resto. Não me interessa o que dirá o chicote do meu agente. Ele não conseguirá agenciar outra escritora como eu nem que ande com uma candeia acesa.
Cheguei a casa e tinha de me desmaquillhar. Custou-me destruir a beleza conseguida a peso de ouro, Mas ao olhar-me ao espelho e ao ver-me como sou, também me achei bonita. Mesmo sem brilhos, sou bonita de todas as maneiras.
Disse-me o cavalheiro, "a menina deve pensar que ganha o suficiente em direitos de autor para os desbaratar em máscaras que fazem de si uma pessoa que não é?!"
Respondi-lhe, "mas estou linda, não estou? E este lançamento é em Almada, praticamente dentro de minha casa..."
Não se deixou convencer. "Concentre-se no que vai dizer, em lugar de embatucar cada vez que lhe perguntam por que escreveu o livro. Reflicta sobre o que escreveu e emita um discurso, se faz favor."
Encolhi os ombros e atirei-lhe, "senhor Simões, desculpe, eu não sou o Roland Barthes, nem quero ser." E
ele, venenoso, "não é, não. Esteja descansada que não é, e por este caminho nunca será. Enfim, menina, veja lá se diz qualquer coisa, e se não souber, sorria, que vocês, mulheres, têm sempre duas escapatórias: sorrir e chorar!"
Reclamei. Disse-lhe que não podia falar comigo dessa maneira, que eu tenho um diploma de especialização em Estudos Feministas. Já ele ia no corredor junto à Papelaria Fernandes, caminhando a passos largos. Diria, disfuncionais.
Mas o meu look de 90 euros foi um sucesso. Todos (excepto o senhor Simões) disseram que estava linda. E as minhas amigas e colegas também tinham ido ao cabeleireiro para se porem lindas para mim. De um momento para o outro senti-me uma pessoa amada, o que no meu caso é sentimento raro. Sei que sou inocente e ingénua tantas vezes, mas quero acreditar que todas aquelas pessoas que me sorriam e me beijavam, gostavam mesmo de mim; que estavam ali porque me estimavam. Quero acreditar nisso e não me interessa o resto. Não me interessa o que dirá o chicote do meu agente. Ele não conseguirá agenciar outra escritora como eu nem que ande com uma candeia acesa.
Cheguei a casa e tinha de me desmaquillhar. Custou-me destruir a beleza conseguida a peso de ouro, Mas ao olhar-me ao espelho e ao ver-me como sou, também me achei bonita. Mesmo sem brilhos, sou bonita de todas as maneiras.