Desdenha de mim
Apanhei-a a olhar para mim com orgulho. Julgo não me ter enganado. Não sei se alguma vez a vi olhar-me daquela forma. Diria que não. Não me recordo. Os olhos estavam cheios, satisfeitos de mim, como se sempre tivesse sido a sua filha querida, a sua única filha querida, o seu tesouro. Senti-me embaraçada. Tive vontade de lhe dizer, mais vale tratares-me como é habitual. Diz-me que estou gorda. Diz-me que esta roupa não me fica bem, que não sei vestir-me, que tenho a pele do rosto estragada, o cabelo despenteado. Por favor, desdenha de mim, tal como é hábito, que para isso tenho defesas. Para a novidade do teu orgulho é que não tenho resposta.