Norte

Nos meus sonhos penso em terras com nomes como Salangen, Gamvik, Murmansk, Vorkuta, Petropavlovsk-Kamchatskiy, cujo interesse reside para mim no facto de nada saber sobre o local. É possível que em Vorkuta exista um belo jardim com árvores coníferas. Talvez haja sumptuosos monumentos em Murmansk, e paisagens marítimas únicas em Gamvik, mas não faço ideia. É bem provável que não passe de pó negro industrial, betão armado e gelo. Não interessa, realmente.
Nos meus sonhos existe essa ideia fixa de fugir para Norte, onde os imperativos de sobrevivência nos reduzem ao essencial, e a solidão nunca é uma escolha, mas a vida. Aí, longe de tudo e de todos aqueles que amo e dos quais não posso libertar-me, mesmo que pudesse, fechar-me-ia na datcha durante o Inverno, lendo livros volumosos e escrevendo histórias sobre meninos e meninas tão felizes e perfeitos de coração que poderiam ter sido meus filhos. E na Primavera, quando chegassem as aves, e ervas despontassem, percorreria os campos para cheirar o ar novo e as ervas, e encontrar animais espetando o nariz fora das tocas e fugindo amedrontados dos meus passos.
Teria comigo os meus cães, porque podemos viver longe de tudo, excepto dos animais que guardam parte significativa da nossa alma. Não seria mais feliz. Uma mulher sem terra em viagem para sempre. A mulher simpática. A mulher dos cães. A mulher gorda. Teriam que me chamar alguma coisa e qualquer uma destas serviria bem para sintetizar o que sou. Não sei como se diz isto em russo ou em norueguês, mas aprenderia escutando.

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