Uma moral antiga

Fui a uma sala Lusomundo ver um filme sobre a outra vida. Convidei um amigo que se recusou a aturar tangas sobre o além. Lá lhe disse, olha que é do Clint Eastwood, e mesmo que seja sobre o outro lado, enfim, é uma obra, é arte. Não o convenci.
Sala cheia e público excitado. Que segredos já conhecidos se iriam aqui revelar?
No intervalo, o desânimo tinha-se generalizado. Era pior que o último que tinham visto. Só conversa, só conversa. Se se tivesse mantido ao nível do tsunami das primeiras cenas, mas não, conversa, conversa, quando é que alguém vinha assombrar-nos da outra vida?
Tenho lido alguns comentários do mesmo teor na blogosfera. Esperava-se mais de Hereafter, o Aqui-Depois, minha tradução favorita. Esperava-se mais o quê? Mais além? Mais fantasmas? Mais comunicação com os mortos em horário nobre? Não será o melhor filme de Clint Eastwood, mas agradou-me a fantasia paranormal, toda, afinal, sobre a vida. Um vidente que recusa o dom, porque não se pode viver rodeado de morte. Um rapazinho que tem de reaprender a existir só. Uma jornalista que acerta as agulhas da sua vida, após sobreviver a uma grave paragem cardíaca e respiratória.
Não sabemos se está alguém do outro lado, ou se existe, e não é o que importa. Estamos Aqui, e enquanto estamos, o que fazer-lhe, Depois do trauma? De quem precisamos, de quando tempo para nos reconstruirmos? Juro que não sei responder, mas em Clint Eastwood há sempre uma moral antiga que me sossega. Alguma personagem me segreda, isto arranja-se, tu verás, tudo se arranja - de uma maneira ou de outra, a justiça vingará. E eu acredito, porque acreditar é a minha salvação.

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