Leituras leves

Acabei de dar a minha primeira gargalhada da semana, e acordei as cadelas, que me olharam com a habitual expressão "não te cures, que não vale a pena".
Tinha acabado de esfregar a cabeça, pensando no embrulho que fiz de mim nos últimos 20 anos, repetindo, tu não tens emenda, o que é que precisa de acontecer - enfim, um raro momento de sanidade mental - e prometer-me que agora ia ser diferente, que, juro, vai ser diferente, e decidi ler um bocado para espairecer.
Não sei se tenho muitos livros. Há quem diga que sim, mas a mim parecem-me poucos. Também nunca gostei de contabilidade. Tenho-os espalhados em casa da minha mãe, pelo meu quarto de solteira, expressão que continuo a gostar de usar, e pela sua sala de estar; na minha, vivem pelo escritório, sala e quarto.
No quarto estão os absolutamente urgentes, que deveria ler, no máximo, até ao final da próxima semana. Encontram-se numa estante e numa cesta de palha. De novo sem contar, mais de cem obras.
Depois, vem a secção dos que terão de estar lidos até amanhã ao final da tarde, todos espalhados pela mesa de cabeceira e chão, cobrindo o tapete, à mão sempre que estou deitada. Esses, contei, são 18. Tenho 18 livros para ler até amanhã ao final da tarde. Foi entre estes que decidi escolher qualquer coisa, de preferência entre os já iniciados, ou quase no fim. Uma leitura leve, sem evocações existenciais, sem dor, sem nada que me lembre os meus últimos 20 anos. O que eu quero é adormecer com o livro na mão e ficar na paz dos deuses.
Procurei, procurei, selecionei, hesitei, e foi quando mandei a gargalhada. Não encontro nada leve para ler. Nada. Nem prosa nem poesia. O livro mais leve que tenho à mão chama-se O dever da Memória e é a transcrição de uma entrevista feita a Primo Levi sobre a vida nos campos de concentração, a prática de religião que aí se fazia, etc., etc.
O livrinho mais leve que aqui tenho é sobre um homem que sobreviveu a Auschwitz e acabou por se suicidar. Vamos lá então atacar esta leitura levezinha.

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